SUS: dados divulgados pela PNS e mídia são diferentes, alerta médica

“O SUS retratado pela Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) é muito diferente do SUS que é divulgado pela mídia. Na PNS, o SUS é bem avaliado. As pessoas conseguem acessar os serviços oferecidos, os medicamentos, internações, subespecialidades e cirurgias. Acho importante também fazer essa defesa em relação à saúde pública, e mostrar os seus avanços. Na mídia, em geral, o que vemos é a exceção virar a regra”, disse a médica Déborah C. Malta, diretora do Departamento de Doenças e Agravos não Transmissíveis e Promoção de Saúde (DANTPS), da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério de Saúde (MS).

A afirmação foi proferida pela diretora do DANTPS na palestra Saúde no Brasil: organização, impactos e perspectivas dos inquéritos populacionais, que aconteceu durante o III Encontro dos Inquéritos de Saúde ISA. O evento foi realizado pelo Centro Colaborador em Análise de Situação de Saúde (CCAS) da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, nos dias 10 e 11 de dezembro.

Em sua palestra, a representante do MS falou sobre os resultados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), realizada pela SVS em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, entre 2013, em mais de 80 mil domicílios. Realizada em âmbito nacional, a pesquisa analisa a situação de saúde e o estilo de vida da população nacional, no que se refere ao acesso e uso dos serviços de saúde, ações preventivas, continuidade dos cuidados e financiamento do sistema de saúde.

Dentre os avanços, Déborah citou as ações nos campos da prevenção e tratamento da hipertensão arterial. “Apenas 3% da população nunca mediu a pressão arterial. Dentre os 21,4% de pessoas que receberam o diagnóstico para a doença, 81% tomaram medicamento, 35% usaram a Farmácia Popular, 69% receberam assistência médica nos últimos 12 meses e 46% consultaram uma Unidade Básica de Saúde”.

Ser atendido sempre pelo mesmo médico para o cuidado da hipertensão, também foi uma informação apontada por 56% dos entrevistados, surpreendendo os próprios organizadores da PNS. “Isso foi muito gratificante, de fato, não esperávamos por esse resultado”, disse Déborah, que acrescentou ainda que 92% dessas pessoas conseguiram realizar dois exames, 87% conseguiram todas as consultas com especialistas e 14% internou-se por hipertensão.

A diretora do DANTPS acrescentou que as recomendações médicas vêm sofrendo mudanças ao longo dos anos, e que isso pode ser percebido com a PNS.  “Os dados que a gente observa na literatura de uma década atrás eram muito diferentes. Cerca de 88% dos entrevistados receberam orientação para manter uma alimentação saudável; 84% para manter o peso adequado; 91% para ingerir menos sal; 81% para praticar atividade física; 76% para não fumar; 65% para não beber em excesso e 87% para fazer o acompanhamento médico regularmente”, finalizou.

De acordo com a coordenadora do CCAS da FCM, Marilisa de Azevedo Berti de Barros, os Inquéritos de Saúde – que inspiraram pesquisas de base populacional como a PNS – estão amplamente reconhecidos como essenciais “em termos de gestão e planejamento de saúde, e enquanto produtores de informação válida”.

O III Encontro dos Inquéritos de Saúde ISA contou, ao todo, com oito mesas de discussão, dois encontros temáticos e apresentação de trabalhos nas áreas de Morbidade e Estado de Saúde, Serviços de Saúde, Consumo de Medicamentos, Práticas Preventivas, Nutrição, e Comportamentos Relacionados à Saúde e ao Sono, e ainda com a participação especial do rapper Renan Inquérito, no evento cultural “Inquérito encontra Inquérito”. (Veja entrevista).