Residentes da cirurgia apresentam trabalhos de conclusão de curso

Na manhã da última sexta-feira (29), aconteceu no anfiteatro da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), a IV Assembleia Cirúrgica. O evento é realizado pelo Departamento de Cirurgia, com o apoio da Comissão de Residência Médica (Coreme), e marca o fim da residência médica em 11 especialidades cirúrgicas. Ao todo, 33 trabalhos de conclusão de curso foram apresentados na programação.

O residente Romeo Lages Simões recebeu o prêmio de melhor trabalho, com a pesquisa intitulada "Uso de teleconferência no ensino de resposta em desastres", orientada pelo médico-cirurgião Gustavo Pereira Fraga. Por sua vez, Fábio Henrique Mendonça Chaim foi escolhido como o melhor residente do programa de Cirurgia Geral.
 

Medicina: ciência, arte e ofício

A IV Assembleia Cirúrgica contou ainda, com a palestra “A história da cirurgia”, proferida pelo cirurgião e livre-docente da FCM, João José Fagundes, autor de 122 artigos publicados em periódicos nacionais e internacionais, 10 capítulos de livros, e de 223 trabalhos apresentados em congressos.

Durante a sua exposição, Fagundes abordou curiosidades sobre os primórdios da área médica, com o início das técnicas de anestesia, dissecação de cadáveres, estudos da anatomia, confecção de próteses cirúrgicas, controle de infecções, dentre outros. Contou a história da Medicina por meio da arte, a partir de obras de Leornardo da Vinci, Michelangelo, John Singer Sargent, e outros pintores célebres. Ao citar o romance Frankenstein, publicado por Mary Shelley, em 1818, João Fagundes propôs aos cirurgiões formados pela FCM “sempre pensar no bem da criatura, e não na glória do criador”.

Em entrevista ao site da FCM, ele falou mais sobre a indissociabilidade da ciência e da arte e os desafios da medicina para o futuro.

FCM – Professor Fagundes, a cirurgia é uma arte?

João J. Fagundes – A arte é ciência. A Medicina é arte e é ciência. O patrono dos médicos é São Lucas, que também foi pintor e médico. As primeiras associações médicas, conhecidas por guildas, incluíam médicos e pintores. A Medicina pode ser cada vez mais uma ciência, mas nunca vai deixar de ser uma arte.

FCM – Antigamente, a medicina era retratada pela arte, através de pinturas, esculturas, desenhos. Como a arte da atualidade aborda a medicina?

João J. Fagundes – Temos muitos livros, grandes volumes, inclusive, que narram a história da medicina através da arte. Os tempos modernos trouxeram a fotografia, o cinema. Estes recursos tornaram tudo ainda mais bonito.

FCM – Como o senhor encara esses momentos de encontro na medicina – como é o caso da Assembleia Cirúrgica – para apresentação de trabalhos e discussão de casos?

João J. Fagundes – A cirurgia está, cada vez mais, multidisciplinar. O cirurgião de antes era individualista, ocupava uma espécie de trono. Ele estava sozinho no palco, vamos dizer assim. Hoje em dia, ninguém faz mais nada sozinho e nós, cirurgiões, entendemos isso. Na atualidade, uma visita na UTI, por lei, torna obrigatória a presença do médico intensivista, clínico, fisioterapeuta farmacêutico, fonoaudióloga, enfermeira. Essa ideia da multidisciplinaridade foi transposta para a prática diária da cirurgia. O cirurgião depende de todos esses outros profissionais. E todos estão no mesmo plano.

FCM – Como o senhor acredita que será a medicina do futuro?

João J. Fagundes – O principal problema da medicina nos dias de hoje é o seu financiamento extremamente caro. A medicina que está chegando é muito baseada em tecnologia, com equipamentos e aparelhos. Os custos tecnológicos aumentam muito mais do que a inflação. Nosso desafio é basicamente econômico. Será muito difícil pagar por todo o progresso da medicina que vem por aí.

FCM – Tornar a medicina mais acessível...

João J. Fagundes – Sim. Falamos tanto em direitos humanos. O acesso ao que há de melhor na medicina deveria estar ao alcance de todos. Seja para quem está no interior do Amazonas, seja para alguém que está em São Paulo. Não estou dizendo que é preciso ter um robô no meio da Amazônia, mas a pessoa que lá vive, precisaria ter acesso a esse robô em algum lugar.

FCM – O senhor acha que no futuro os robôs poderão substituir os cirurgiões?

João J. Fagundes – Não (risos). Os robôs sempre serão comandados pelos médicos. Ainda precisarão de pessoas para programá-los. A figura do médico, até onde eu posso enxergar, sempre irá existir. Enquanto estiver morrendo ou nascendo alguém, haverá alguém perto. Em nossa civilização chamamos esse alguém de médico.