Resumo
O consumo de bebidas adoças artificialmente com frutose vem crescendo na sociedade ocidental desde a década de 70 do século anterior. Em paralelo a esta mudança no hábito alimentar, dados epidemiológicos recentes mostram um aumento da incidência de asma em crianças que nasceram de mães com hábitos alimentares aliados a um consumo excessivo de bebidas adoçadas artificialmente com frutose. Apesar da correlação epidemiológica relacionada ao desenvolvimento de asma, não foi mostrado experimentalmente se o consumo de frutose durante a gestação programa alterações na resposta inflamatória alérgica das vias aéreas na prole. A correlação entre hábitos nutricionais maternos e alterações no fenótipo alérgico da prole, entretanto, já foi demonstrada em situações como obesidade gestacional ou consumo de dietas ricas em gorduras durante a gestação. Deste modo, o objetivo primário deste estudo foi esclarecer se o consumo de frutose durante a gestação e/ou lactação de camundongas pode intensificar a resposta inflamatória da asma alérgica na prole de ambos os sexos. Para atingir estes objetivos expusemos camundongas C57BL/6 à frutose 10 na água de beber durante a gestação e/ou lactação e em seguida realizamos múltiplas análises em mães e proles. Ao atingirem 5 semanas de vida, a prole foi submetida ao modelo de sensibilização/desafio com ovalbumina (OVA) para avaliação da resposta alérgica das vias aéreas. Nossos resultados mostram que o consumo de frutose exacerbou a asma alérgica experimental, com achados como aumento de contagem de leucócitos no lavado bronquioalveolar (LBA), incluindo eosinófilos; aumento de interleucinas do perfil Th2, Th1/Th17 no BAL, IgE no soro; Aumento do infiltrado inflamatório no tecido pulmonar; e aumento de peroxidase eosinofílica (EPO) no parênquima pulmonar. O aumento da infiltração eosinofílica foi um achado exclusivo na prole de machos enquanto o aumento das interleucinas Th2 foi encontrado exclusivamente na prole de fêmeas. O consumo materno de frutose também aumentou a deposição de colágeno e causou hiperplasia de células caliciformes no pulmão de proles machos. Do ponto de vista transcricional, o consumo de frutose por gestantes alterou a expressão de genes relacionados a resposta alérgica, como MUC5AC, MUC5B, NLRP3, RAGE, ARG-1. O aumento de eosinófilos no LBA da prole macho também foi encontrado naqueles nascidos de mães que consumiram frutose exclusivamente na gestação ou na lactação. Também foram observadas alterações na expressão de ZO1, OCLN e CLDN2, indicando comprometimento da integridade pulmonar das proles em decorrência da exposição intrauterina e neonatal à frutose. Nossos dados permitem descartar que a presentemente descrita programação fetal tenha ocorrido em decorrência da obesidade materna ou da prole, uma vez a frutose não alterou o peso corporal destes animais. Este estudo apresenta a primeira evidência experimental que demonstra a programação da intensidade da resposta alérgica das vias aéreas na prole pelo consumo materno de frutose. Também demonstramos que esta programação acontece de maneiras diferentes entre proles de machos e de fêmeas.
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