Resumo
A azoospermia, a ausência total de espermatozoides no ejaculado, afeta cerca de 10 dos homens com infertilidade, com dois terços desses casos associados a falhas na espermatogênese. Atualmente, as taxas de sucesso na recuperação de espermatozoides através de técnicas cirúrgicas variam amplamente, destacando a necessidade de melhorias. Uma abordagem promissora envolve a estimulação hormonal, especificamente o uso de hCG recombinante para aumentar a produção de testosterona intratesticular e melhorar a espermatogênese.
O objetivo do estudo foi avaliar a ação da estimulação hormonal com gonadotrofinas recombinantes nas taxas de sucesso da recuperação espermática através da microdissecção testicular (micro-TESE). Dentre os objetivos secundários foram avaliados: os fatores associados ao sucesso na recuperação espermática; as taxas de sucesso da recuperação espermática no grupo de pacientes com valores normais e elevados de FSH basais, utilizando como limite 12 UI/L; as taxas de sucesso da recuperação espermática de acordo com classes histopatológicas na população tratada e não-tratada; a frequência de eventos adversos na população tratada; a frequência de complicações pós-operatórias advindas da micro-TESE na população geral.
O estudo de coorte incluiu 616 pacientes com azoospermia não-obstrutiva (ANO) e hipogonadismo bioquímico (T total<350 ng/dL), divididos entre grupo tratado (n=291) com gonadotrofinas recombinantes previamente a micro-TESE e grupo não tratado (n=325). Os pacientes foram submetidos a avaliação clínica, laboratorial e histopatológica. Os pacientes tratados receberam hCG recombinante, com a possibilidade da adição de FSH recombinante e/ou inibidor de aromatase.
A taxa de sucesso da micro-TESE na população geral foi de 56,6 . O grupo tratado apresentou taxa de sucesso da micro-TESE significativamente maior comparado ao grupo não tratado (62,5 vs. 51,4 , P=0,006). Níveis basais de FSH, ausência de varicocele clínica, história de varicocelectomia prévia, uso da estimulação hormonal antes da micro-TESE e padrões histopatológicos obtidos das biópsias feitas durante a micro-TESE foram identificadas como fatores independentes ligados a um resultado positivo na recuperação de espermatozoides. Após a terapia hormonal, apenas 22,3 dos pacientes mantiveram hipogonádicos, sendo que homens eugonadicos obtiveram maiores taxas na recuperação espermática (69,4 vs. 38,5 , P<0,001). Dentre os pacientes tratados, apenas os níveis de T total pré-micro-TESE (418,5 ng/dL) e delta T (258 ng/dL) foram independentemente associados ao sucesso da recuperação espermática. Após ajuste do modelo de regressão, apenas pacientes normogonadotróficos (FSH<12 UI/L) demonstraram significância estatística na razão de chances da recuperação espermática. Pacientes com parada de maturação apresentaram maior resposta à estimulação hormonal, especialmente aqueles com estágios mais avançados de parada. As taxas de efeitos adversos da estimulação hormonal foram baixas (10,3 ), assim como as complicações pós-operatórias da micro-TESE (2,3 ).
A estimulação hormonal com gonadotrofinas recombinantes demonstrou eficácia e segurança, com baixas taxas de efeitos adversos. Enquanto a causalidade não pode ser estabelecida, os achados deste estudo sugerem que pacientes com ANO e hipogonadismo bioquímico se beneficiam com a estimulação hormonal e correção de varicocele clínica previamente a micro-TESE. São necessários estudos em larga escala, multicêntricos e randomizados para confirmar esses achados e determinar a eficácia e segurança dessa abordagem antes da cirurgia de recuperação espermática.
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