Resumo
Introdução: Muitos tipos de sofrimento psíquico se iniciam na adolescência. Meninas adolescentes apresentam duas vezes mais sintomas de depressão e de transtornos mentais comuns do que os meninos. O sentimento de desvantagem e de inequidade de gênero afetam a saúde física e emocional e podem ser associadas a comportamentos de risco e violência, influenciando no bem-estar psíquico e na saúde mental.
Clima escolar é a forma subjetiva como alunos, professores, gestores e funcionários percebem o ambiente escolar e também interfere na saúde mental.
Objetivo: Avaliar a relação entre gênero, saúde mental e comportamentos de risco na adolescência, e a associação de transtornos mentais comuns nas meninas que sentem desvantagem de gênero e também avaliar o clima escolar e sua relação com sintomas de depressão, autolesão não suicida, bullying e uso de substâncias psicoativas.
Métodos: Estudo observacional, transversal com escolares de 10 a 18 anos, de escolas públicas de uma cidade do interior de SP. Foram aplicadas três perguntas fechadas: se já se machucou para aliviar sofrimento emocional, se já sofreu bullying e se já praticou bullying e 09 questionários: 1) Critério Brasil de Classificação Econômica, 2) Avaliação de como o adolescente se sente em relação a si, sua popularidade na escola e como se sente em relação a sua própria vida, 3) Uso de substância psicoativas (SPA) pelo CRAFFT-2, 4) Sintomas depressivos, pelo PHQ9, 5) Transtornos mentais comuns, pelo SRQ 20, 6) Garra, pelo GRIT-S, 7) Escala de Equidade de Gênero (escala GEM), 8) Percepção de desvantagem de gênero (CAGED) e 9) Manual de Orientação para a Aplicação de Questionários que avaliam o Clima Escolar.
Dados categóricos foram avaliados pelo teste do Qui-quadrado, variáveis contínuas, pelo Teste de Mann Whitney. A prevalência de comportamentos de risco foi comparada entre meninas e meninos.
Resultados: Participaram 323 adolescentes, com mediana de idade de 13 (IIQ=2). A mediana dos escores da escala de equidade de gênero foi 68 (IIQ=4,5) para meninas e 67 (IIQ=5) para meninos, com p=0,024 pelo Mann Whitney, considerados altos. Houve alta prevalência de comportamentos de risco. Transtornos mentais comuns, autolesão e uso de substâncias foram maiores naquelas meninas que sentiam mais desvantagem de gênero. Meninas apresentaram maiores escores de sintomas depressivos e de transtornos mentais comuns comparados com os dos meninos; 23 das meninas e 11,4 dos meninos relataram já ter sofrido bullying na escola atual, mas apenas 4,5 das meninas e 5,6 dos meninos referiram já ter praticado. A incidência de autolesão foi de 31 nas meninas e de 13 nos meninos.
Das dimensões do clima escolar, as que foram consideradas negativas pelos alunos foram a relação com a família e a comunidade e infraestrutura.
Conclusão: A prevalência de comportamentos de risco foi elevada. Os escores das meninas na subescala de inequidade e de saúde mental foram mais altos. A desvantagem de gênero sentida pelas meninas se correlacionou com a presença de transtornos mentais comuns. Meninas sofrem mais bullying, meninos praticam mais. As piores dimensões do clima escolar foram família e comunidade e infraestrutura.
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