Resumo
A gastrostomia endoscópica percutânea (GEP) é a via preferencial para a introdução de sonda de alimentação para suporte nutricional enteral nos pacientes que possuem sistema gastrointestinal funcional, mas são incapazes de se alimentarem pela via oral. Em comparação com o acesso cirúrgico, a GEP apresenta baixo custo, é menos invasiva, menos mórbida, não necessita de laparotomia para acessar o estômago e nem anestesia geral na maioria dos casos. Pode ser realizada no próprio leito nas unidades de terapia intensiva e, em boa parte dos pacientes, somente com sedação1.
As duas principais indicações para a GEP são a alimentação enteral e a descompressão gástrica. Uma sonda de gastrostomia pode servir de veículo para fórmulas alimentares, fluidos e medicações, assim como para descompressão gástrica, drenagem ou tratamento de volvo gástrico. O procedimento é amplamente realizado em pacientes idosos que perderam a capacidade de comer, seja por doenças cerebrovasculares, doença neurológica crônica ou demência avançada. Também pode ser realizado em pacientes com tumores de cavidade oral e esôfago, incapazes de ingerir alimentos pela via oral, desde que se consiga o acesso ao estômago pela endoscopia.2, 3
É considerado um procedimento seguro, mas não é isento de complicações. Estas, podem ser relacionadas ao procedimento em si ou podem ser tardias, associadas com o uso do dispositivo de gastrostomia e os cuidados com a ferida operatória. Também podem ser divididas em complicações maiores e menores. As menores, como mau funcionamento da sonda, infecção periestomal, pneumoperitônio e hematoma de ferida operatória, são tratadas de forma conservadora. Já as complicações maiores podem necessitar de hospitalização, transfusão sanguínea ou terapia endoscópica ou cirúrgica, e tem como exemplos a perfuração intestinal, hemorragia gastrointestinal, fístula gastrocutânea, abscesso intra-abdominal, pneumonia aspirativa, e migração do anteparo.4, 5
Em um estudo recente realizado nesta instituição com 173 pacientes submetidos à GEP entre janeiro de 2015 e dezembro de 2022, foi encontrada uma taxa elevada de complicações, alcançando mais de 35 . As principais foram infecção de ferida (12,1 ), perda da sonda (16,2 ), obstrução da sonda (7,51 ), vazamento periostomia (6,93 ) e burried bumper syndrome (6,93 ). Esta, com taxa expressivamente maior do que a encontrada na literatura (1,5-1,9 ) e com metade dos casos ocorrendo em ambiente intra-hospitalar, tendo grande relação com os cuidados médico e de enfermagem. Outro fator observado foi a dificuldade na manutenção do dispositivo no seguimento ambulatorial, com muitos pacientes necessitando procurar atendimento terciário para realizar a troca do dispositivo, por não obterem auxílio da rede básica e secundária.
Levando em conta os dados obtidos neste estudo, torna-se crucial a elaboração de um protocolo institucional para a padronização das indicações, cuidados trans e pós operatórios com a GEP, tendo como objetivo a redução das complicações.
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