Resumo
Introdução: Os programas de recuperação acelerada pós-operatória (PRAPs) têm consistentemente demonstrado melhores desfechos em uma variedade de procedimentos cirúrgicos de diferentes especialidades. No entanto, a aplicabilidade dos PRAPs no contexto da cirurgia do trauma ainda não está bem estabelecida. Este estudo teve como objetivo 1) elaborar e implementar um PRAP para pacientes submetidos à laparotomia exploradora por trauma abdominal penetrante; 2) avaliar a segurança, viabilidade e eficácia do PRAP proposto; e 3) comparar os resultados da aplicação deste protocolo em relação à assistência perioperatória convencional.
Métodos: Trata-se de um estudo quase-experimental, de delineamento pré- e pós-teste, em que pacientes hemodinamicamente estáveis submetidos à laparotomia de urgência por trauma abdominal penetrante foram incluídos prospectivamente. Os pacientes alocados no PRAP proposto (grupo intervenção) foram comparados a uma coorte histórica (grupo controle) submetida a práticas convencionais de cuidados pós-operatórios. Os casos foram pareados individualmente aos controles em uma proporção de 1:1, utilizando como critérios a idade, sexo, mecanismo do trauma, lesões associadas e escores de trauma. Os efeitos da intervenção foram analisados sob um modelo de regressão linear generalizado para medidas de desfecho, incluindo tempo de internação hospitalar, incidência de complicações pós-operatórias e parâmetros de recuperação funcional.
Resultados: Trinta e seis pacientes consecutivos foram prospectivamente incluídos no PRAP proposto e pareados com 36 controles históricos, totalizando 72 participantes. A aplicação do protocolo resultou em redução estatisticamente significante de 39 no tempo médio de internação hospitalar. Não houve diferenças entre os grupos quanto à incidência de complicações pós-operatórias. O consumo de opioides foi significativamente menor no grupo PRAP (p<0,010). O tempo para a realimentação oral com líquidos e sólidos, bem como para a retirada da sonda nasogástrica, da sonda vesical e de drenos abdominais, foi significativamente menor entre os pacientes do grupo PRAP (p<0,001).
Discussão: A implementação de um PRAP padronizado para o cuidado perioperatório de pacientes vítimas de trauma abdominal penetrante submetidos à laparotomia resultou em redução estatisticamente significante no tempo de internação hospitalar, sem aumento na incidência de complicações pós-operatórias. Ademais, astaxas de reintervenção cirúrgica e readmissão hospitalar em 30 dias foram estatisticamente comparáveis ao cuidado convencional.
Conclusão: Os princípios dos PRAPs podem ser aplicados de forma segura e eficaz na assistência perioperatória de casos selecionados na população vítima de trauma.
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