Walter Pinto Júnior

Walter Pinto Júnior, professor titular da Unicamp, é um dos mais renomados geneticistas do País. Ele é da segunda turma de medicina da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp (1964-1969), onde também concluiu sua pós-graduação e introduziu o diagnóstico pré-natal. Esta tecnologia foi trazida por Walter dos Estados Unidos por volta de 1974-1975, funcionando por muitos anos. O geneticista criou o primeiro Ambulatório de Genética Clínica do Brasil. Discípulo de Bernardo Beiguelman, Walter Pinto também teve, e até hoje tem, uma importante atuação em clínica privada. Os primeiros bebês de Campinas e do Rio de Janeiro – fruto de fertilização in vitro (FIV) – foram feitos em seu laboratório. Ofereceu ainda assessoria técnica a duas novelas da Rede Globo de Televisão: Barriga de Aluguel e, mais recentemente, O Clone. Trabalhando com FIV há mais de dez anos, inclusive com diagnóstico pré-implantação com uma célula do embrião, os estudos feitos por Walter nesta linha conseguiram logo determinar se os bebês iriam nascer com síndrome de Down, síndromes cromossômicas ou alterações gênicas. O diagnóstico é feito a partir de uma única célula.

FCM: aos 40, uma jovem senhora

Sou da segunda turma de medicina da Unicamp (1964-1969), onde concluí minha pós-graduação. Mas o início de tudo foi na Santa Casa. Era um prédio antigo e que recebeu muito bem a Faculdade de Ciências Médicas naqueles primeiros anos, até que fosse construído o atual HC. A Santa Casa foi meio que empurrada por uma avalanche de conhecimentos da ocasião. Fisicamente, o seu problema maior era o ranger dos tacos daquelas madeiras antigas. Era até uma coisa romântica. Por outro lado, ali tivemos muitos percalços também.

Quando entrei na Faculdade de Medicina, existia praticamente as áreas de Genética, Fisiologia, Bioquímica, Anatomia e Histologia. A Faculdade toda tinha por volta de 20 professores. Na Genética, por exemplo, eram o Dr. Bernardo Beiguelman e dois assistentes. Quando finalizei o meu curso, já eram uns 60 a 70 professores.

Desde o primeiro ano, fui contratado como monitor do Departamento de Genética Médica. Uma das principais oportunidades minhas foi o fato de ter aberto, na época, o campo de genética clínica no ano em que eu me formava. Não havia ninguém fazendo este campo oficialmente. Portanto, aprendi e introduzi o diagnóstico pré-natal dentro da própria Unicamp, que funcionava no Departamento. Esta tecnologia foi trazida para a Universidade na minha volta dos Estados Unidos, entre 1974 e 1975. Ela funcionou bem por muitos anos.

Acredito ter dado uma contribuição significativa à Universidade com a criação do primeiro Ambulatório de Genética Clínica do Brasil. Nele, formaram-se mais de 30 médicos, muitos dos quais foram assistentes, doutores e até chefes do Departamento da Genética Médica. Dirigi aquele Departamento mais ou menos seis vezes, ou por férias do professor Bernardo ou então por eleição direta dos meus pares.

Passados tantos anos, a genética no Brasil avançou muito, graças a algumas iniciativas da Universidade de São Paulo (USP), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do próprio governo, ao lhe dedicar verbas especiais. Tenho a impressão de que a nossa genética não deixa muito a desejar a outras do mundo. Torço para que progrida mais ainda.

Memorial – Dada a revolução cultural da FCM, que está sendo feita através de equipamentos e de exames modernos, tenho a impressão de que esta parte clínica, a generalista, está deixando de ser ensinada. Esta modernidade está indo muito bem e vai ocupar tal ponto que, com alguns kits de laboratório, será possível fazer diagnósticos impensados há dez anos. É com isso que se começa a perder a visão generalista, sendo que a população ainda está no generalista. A sua aplicação é muito importante, sem nunca perder a modernidade.

Os exames novos que estão sendo feitos, em nível de imagens e de DNA, têm que avançar junto com a universidade. Sinto, porém, a importância da visão generalista do “tête-à-tête”, a visão da palpação do paciente e como é que você o interpreta, principalmente em termos dos preconceitos psicológicos e sociais que muitos carregam. É necessário ser incentivado sempre, apesar de a Faculdade de Medicina ter mudado estruturalmente o curso de medicina. O aluno que chega à universidade deve conseguir observar o paciente sozinho, porque ele conta com o apoio didático dos bons professores da Universidade de Campinas.

A FCM, em minha formação, foi um berço. Nela eu aprendi. Foi o que eu gostei de fazer e ao que me dediquei. O professor Zeferino Vaz sempre nos deu grande incentivo. Os professores estavam ao meu lado: o Oswaldo de Freitas Julião, falecido; e, na clínica médica, o Sílvio Carvalhal, além do Fonseca; e foram inesquecíveis.

Também todo mundo sabe que a minha formação deveu-se ao professor Bernardo. Foi a pessoa que me deu um cunho científico no começo da FCM. Sua dedicação foi excepcional. Ofereceu tempo integral à Universidade durante todos estes anos. Nunca burlou. Foi sempre uma pessoa de uma dedicação extrema e orientou a todos estes docentes que agora começam a se aposentar. Todos passaram nas mãos dele, seja através da parte estatística, que ele ajudou a orientar, ou daquelas idéias que ele apresentou na época. É uma pessoa que a Faculdade jamais poderá esquecer. Este homem é uma figura exemplar e que deveria ser copiada pelos mais novos, em todo seu conteúdo.

Essa época é romântica para cada um de nós. Guardo muitas recordações porque aprendi muitas coisas. Todas elas, uso até hoje. Concluo dizendo que o importante é aprender aquilo que se vai usar. Aquilo que não serve para nada, é bom deixar de lado.