Maria Cecília Cardoso Benatti

Há 34 anos na Faculdade de Ciências Médicas (FCM), a enfermeira Maria Cecília Cardoso Benatti está prestes a se aposentar como professora associada do seu Departamento. Profissional atuante em vários momentos da Universidade, ela ajudou a criar a Diretoria de Enfermagem do HC da Unicamp e o Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism). Com uma extensa lista de trabalhos prestados, Cecília Benatti acredita que teria muito a contribuir com o ensino e a pesquisa da Universidade. A enfermeira relembra os primeiros tempos na área de saúde, em depoimento exclusivo à Faculdade.

Fui para a FCM depois de um bom tempo na Unicamp (desde 1965) como aluna de enfermagem. Em 1968, entrei na Santa Casa e, em 1969, como funcionária na Unicamp, a convite do professor Pinotti, que era o diretor. Em 1981, passei a integrar o corpo docente da faculdade, no Departamento de Enfermagem, iniciado em 1977. Ministrei algumas disciplinas e, ao final de quatro anos, já somavam 14 matérias lecionadas, sobretudo porque havia falta de pessoal docente. Acredito que por este motivo tive uma atuação diversificada.

Na área de saúde, onde permaneci 14 anos, fui enfermeira-chefe da 4a enfermaria (de Ginecologia), a qual mais tarde originou o Caism. Este serviço atuava apenas com 23 leitos, estando sob a direção do professor Pinotti, chefe do Departamento. Na enfermaria, fiquei durante muito tempo. Foram 18 anos. Passei a assistente de direção e depois a diretora do Serviço de Enfermagem. Em 1972, fui chefe do Serviço, atual Departamento de Enfermagem do HC, e a sua primeira diretora.

Naquela época, foram realizados vários concursos admissionais, com mais de 20 contratações para o novo hospital. Atuamos também na planta de construção do hospital. Lembro-me que veio aqui uma enfermeira americana para discutir com a gente toda a planta física do hospital.

Conheço a FCM desde o início da primeira turma de enfermagem e da medicina. Lembro-me deles já à época da Maternidade Campinas. Com todos, tive uma relação muito intensa, tanto que nem vi passar o tempo. Ao todo, foram 34 anos. Tive muito serviço pela frente. Particularmente na Santa Casa, o convívio foi intenso e sentia um maior entrosamento, pois havia menos gente e mais amizade.

Na Unicamp, a estrutura da FCM tornou-se maior, e com todo este sucesso que ela tem nos dias de hoje. As minhas mestres na Santa Casa, quando fiz a faculdade, foram as irmãs da Ordem de São José, e gostava muito do Dr. Costa Lima. No mestrado, tive como orientadora a Dra. Ana Maria Canesqui, da Medicina Preventiva. Já, o doutorado, fiz na USP.

Situações inusitadas ocorreram principalmente na Santa Casa. As jacas caíam em cima dos carros. Também me lembro dos escorregões de muitos docentes nas ceras vermelhas passadas no chão. De branco, eles tombavam e ficavam marcados de vermelho, tendo, às vezes, que permanecer com a mesma roupa até o final do dia.

Outro fato curioso foi que cuidei do professor Zeferino Vaz quando enfartou. O professor Paulo Afonso me recomendou que não o deixasse sair da cama. Era para eu tomar todo cuidado. E eu saí e, quando retornei ao quarto, ele estava fazendo ginástica. Eu fiquei brava. Disse: “o sr. não pode fazer isso”. Ele respondeu: “menina, quem manda em mim sou eu”. E olha que eu era recém-formada. Todo mundo riu muito da situação e se perguntava se o enfarte foi mesmo legítimo, pois ele sabia das implicações de fazer ginástica e os cuidados exigidos. Muitos acreditavam que a internação foi por motivo político.

Outra: um preso pulou da janela do quarto da enfermaria, uma vez que o guarda ficava vigiando pelo lado de fora. Caiu em cima de um carro, amortecendo a queda para fugir. O engraçado foi que o guarda saiu em seu encalço, mas pela escada. Dá para imaginar quem chegou primeiramente?

Fatos como esses dão saudade da FCM dos primeiros anos ...

Se me pedissem uma mensagem para saudar a Faculdade, diria que espero que ela alcance cada vez mais sucesso, pois já é uma potência. É uma das melhores do Brasil. “Que ela consiga maior projeção e, acima de tudo, que pense em criar algo como um Instituto da Área da Saúde que abranja, além da medicina, a enfermagem e a fonoaudiologia, outras profissões da saúde e, com isso, se torne cada vez maior e ajude este problema tão grande, que é a saúde no nosso Brasil”.