Resumo
Introdução: O câncer de mama hereditário corresponde a 20 dos casos de câncer de mama no Brasil. O risco cumulativo de câncer de mama em pacientes com mutações genéticas germinativas em genes de alto risco pode ultrapassar 80 . A identificação de pacientes de alto risco permite a realização de um rastreamento adequado, além de ofertar cirurgias redutoras de risco. A mastectomia redutora de risco reduz em mais de 90 o risco de câncer de mama e tem impacto na qualidade de vida da mulher. No Brasil, poucas instituições apresentam serviços voltados à população de alto risco para câncer de mama. Objetivo: Avaliar a mudança de comportamento das pacientes de alto risco em relação à MRR antes e após o resultado do teste genético e quais os principais fatores de influência na tomada de decisão. Métodos: Foi realizada uma coorte prospectiva entre novembro de 2021 e outubro de 2022 com mulheres em acompanhamento no ambulatório de alto risco da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), sem antecedente pessoal de câncer de mama ou ovário, porém com história familiar de câncer de mama e/ou ovário diagnosticado com < 45 anos ou com critério NCCN de alto risco ou com história pessoal de câncer de mama e pelo menos um parente com câncer de mama, ovário e/ou próstata. As pacientes responderam um questionário e depois foram encaminhadas para testagem genética e, após o resultado, receberam orientações de acordo com o resultado do exame. Resultados: Foram incluídas 373 mulheres, 188 (50,4 ) sem antecedentes pessoais de câncer de mama e/ou ovário e 185 com antecedentes (49,6 ). Na análise pré-testagem genética, 173 (54,1 ) pacientes pensavam em realizar MRR. Após o teste, 135 de 320 (42,2 ) das pacientes desejavam o procedimento cirúrgico. A mudança de comportamento aconteceu em 26,2 , principalmente de “sim” para “não/não sei” (35,3 ) (p<0,001). O resultado do teste genético foi positivo (VP ou VPP) 29,7 das pacientes, sendo mais frequentes nas pacientes com antecedente pessoal de câncer (36,9 vs. 22,7 ) (p=0,012). Dentre as 90 pacientes com resultados positivos (VP ou VPP), 62 (68,9 ) concordavam com a MRR, porém 22 (24,4 ) permaneceram sem aceitar as MRR, independente do teste positivo. O teste genético influenciou na decisão em 11 das 90 pacientes (11,2 ) que mudaram de opinião de “não” para “sim” após o teste positivo, 14,9 mudaram de opinião para “não” após negativo e 40,4 permaneceram optando pela cirurgia independente do teste ser normal (p<0,001). Os fatores de influência significativa para a mudança de comportamento pré e pós teste genético (no sentido de fazer a cirurgia) na análise multivariada, foram: resultado do teste genético positivo (O.R 2.94, p<0,001), história pessoal de câncer (O.R 2.7, p=0,008) e idades entre 40-49 anos (O.R 2.07, p=0,008) e ≥ 50 anos (O.R 3.47, p<0,001). Conclusão: Em uma população brasileira de alto risco para câncer de mama e ovário usuária do sistema público de saúde, foi observado que a maior parte desejava a realização de mastectomias redutoras de risco, porém, quando realizado o teste e aconselhamento genético, a mudança de comportamento é observada, principalmente quando o resultado é positivo, mostrando que ele serve de influência e é uma estratégia de prevenção e otimização dos recursos dos sistemas de saúde.
|